Tal como J. Alfred Prufrock, vou começar a medir a minha
vida em colheres de café e não em dias meses anos. Os dias meses anos são
demasiado longos para mim, que sou muito mais pequeno.
O jantar estava bom, obrigado. Cozinhei para seis pessoas,
entradas, prato principal e café, mas só pus um prato na mesa. Acho que seis
pessoas é o número ideal de amigos para se ter numa festa de fim de ano.
Esqueci-me de comprar as passas, mas ninguém vai reparar porque eu não como
passas. Bebi um gin tónico antes do
jantar. Bebi um copo de vinho ao jantar. Acabei de abrir o champagne. Não vou esperar pela contagem decrescente.
Acho que a certa altura deixamos de pensar se o ano que
passou foi bom ou mau. Gosto quando ouço dizer,
– parece que foi ontem,
porque a mim não me parece que tenha sido ontem, nem há um
ano, às vezes olho para trás e parece que foi outra vida e por isso começo a
pensar que devíamos medir o tempo tal como J. Alfred Prufrock, em colheres de
café, e pensar se em cada um desses pequenos pedaços de existência estamos a
aprender alguma coisa. Eu acho que continuo a aprender. Neste ano aprendi mais
do que queria, o que por alguma razão me fez lembrar daquela velha máxima,
– cuidado com o que desejas.
Lavei a louça e arrumei a casa. O jantar estava bom,
obrigado. Ponho uma música dos anos 50, gosto desta música.
Estava à espera que alguma coisa diferente acontecesse.
Estava à espera de poder conseguir contrariar-me porque tudo o que pode
acontecer pode eventualmente acontecer. Mas não. Aconteceu tudo como disse que
ia acontecer. Escrevo demasiado bem a minha vida, sem me enganar.
E agora é só ir até à varanda e esperar pelo fogo-de-artifício.
Aposto que vai estar um vento frio quando olhar para a direita, para Cascais.
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