quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

3 MINUTOS

Tal como J. Alfred Prufrock, vou começar a medir a minha vida em colheres de café e não em dias meses anos. Os dias meses anos são demasiado longos para mim, que sou muito mais pequeno.
O jantar estava bom, obrigado. Cozinhei para seis pessoas, entradas, prato principal e café, mas só pus um prato na mesa. Acho que seis pessoas é o número ideal de amigos para se ter numa festa de fim de ano. Esqueci-me de comprar as passas, mas ninguém vai reparar porque eu não como passas.  Bebi um gin tónico antes do jantar. Bebi um copo de vinho ao jantar. Acabei de abrir o champagne. Não vou esperar pela contagem decrescente.
Acho que a certa altura deixamos de pensar se o ano que passou foi bom ou mau. Gosto quando ouço dizer,
– parece que foi ontem,
porque a mim não me parece que tenha sido ontem, nem há um ano, às vezes olho para trás e parece que foi outra vida e por isso começo a pensar que devíamos medir o tempo tal como J. Alfred Prufrock, em colheres de café, e pensar se em cada um desses pequenos pedaços de existência estamos a aprender alguma coisa. Eu acho que continuo a aprender. Neste ano aprendi mais do que queria, o que por alguma razão me fez lembrar daquela velha máxima,
– cuidado com o que desejas.
Lavei a louça e arrumei a casa. O jantar estava bom, obrigado. Ponho uma música dos anos 50, gosto desta música.
Estava à espera que alguma coisa diferente acontecesse. Estava à espera de poder conseguir contrariar-me porque tudo o que pode acontecer pode eventualmente acontecer. Mas não. Aconteceu tudo como disse que ia acontecer. Escrevo demasiado bem a minha vida, sem me enganar.
E agora é só ir até à varanda e esperar pelo fogo-de-artifício. Aposto que vai estar um vento frio quando olhar para a direita, para Cascais.

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