Ando assim, sem saber bem para onde
ando. Às vezes parece que estou chateado com o mundo, outras vezes ponho-me a
cantar na rua,
– lá, lá, lá
porque vejo um casal de namorados de
mão dada ou um velhote a apanhar a merda do cão.
Hoje fui à praia. Não tinha nada
para fazer e disse,
– vou à praia
mas estava muita gente e muito
calor, e por isso voltei para casa. Vi o futebol. Pensei em ti. Fiz o jantar.
Pensei se estarias a pensar em mim. Nunca gostei de Domingos. Passei a infância
deprimido à custa dos Domingos, o dia inteiro a imaginar no que me ia acontecer
amanhã, a levantar-me cedo, a ir para a escola (nunca gostei da escola), a
aturar professores que já na altura achava serem menos inteligentes do que eu,
aliás, que já na altura achava serem estúpidos como portas.
Peço desculpa aos meus
ex-professores de infância, o meu psicólogo disse-me anteontem que eu devia ser
mais tolerante com os outros e que devia aprender a pedir desculpa,
– Não devia insultar as pessoas nem
tratá-las como se fossem atrasadas mentais.
Eu disse-lhe que o horóscopo da Maya
no Correio da Manhã dizia exactamente a mesma coisa e despedi-me com um,
– Vá bardamerda.
No teatro temos as matinés. Ultimamente
não tenho lá aparecido, e agora até acabaram, mas mesmo assim gostava de
encontrar a besta que um dia se lembrou de dizer,
– E se ao Domingo fizéssemos espectáculo
à tarde? Assim os velhos podiam dormir a sesta na plateia!
para lhe agradecer pessoalmente ter
estragado grande parte dos Domingos da minha idade adulta e depois enfiar-lhe
um valente pontapé nos tomates.
O meu psicólogo diz que eu sou uma
pessoa amarga. Eu digo-lhe que ele é um pateta alegre e que devia admitir a homossexualidade.
Odeio Domingos. Aposto que o Verão
vai ser todo assim. Sozinho em casa a olhar para o relógio, as horas que não
passam e eu a pensar em ti e a pensar se pensas em mim.
Amanhã vou comprar uma Playstation. De certeza que a meio de um jogo de futebol vou começar a cantar,
– lá, lá, lá.
Sem comentários:
Enviar um comentário