sábado, 25 de janeiro de 2014

THE ACT OF ACTING

Passou quase um ano, e foi estranho sentar-me a ver onde é que estavas quando te vi pela última vez, uma curta peça que escrevi para a Lídia e à qual falta um ponto de interrogação no título, como muito bem observaram alguns entendidos.
Não gosto de ver em cena o que escrevo. Fico sempre a olhar para o público, para a reacção das pessoas, oscilo entre Eros e Tanatos consoante os sorrisos ou os bocejos das pessoas. Mas foi bom ver a sala cheia e quase todas as pessoas de pé no final, é uma sensação agradável, mesmo que as palmas não sejam para mim, mesmo que não saibam quem eu sou.
Já não ouvia o texto há quase um ano, e ontem, numa espécie de ensaio geral possível, senti-me na pele de um espectador desatento que não sabe onde está. Não reconheci as palavras, não sabia o que ia acontecer, qual a sequência das ideias e como elas se ordenavam umas à frente das outras.
É quase incestuoso gostar de uma coisa que escrevi e não me lembrar de a ter escrito.
Quase nem me lembro que estivemos um mês em cena no ano passado, no Teatro Rápido.
Foi o único texto que escrevi em que não fui acusado de misoginia.
A acção, que eu julguei simples, trata de uma mulher que prefere sonhar com a materialização do amor da vida dela numa fotografia do que a viver a realidade. As histórias que vai inventando servem para não estar sozinha nessa repetição, mas com isso perde-se na sua própria alteridade porque o mundo do “faz-de-conta” é, afinal, tão real quanto a vida (algumas crianças que assistiram ao espectáculo não tiveram qualquer dificuldade em perceber o texto, ao contrário de muitos adultos, que se baralhavam e perdiam nas muitas efabulações da personagem).
Acho que onde é que estavas quando te vi pela última vez é sobre as pessoas e sobre o teatro.
silêncio
E estamos sozinhos a inventar histórias, estamos sempre sozinhos a inventar histórias, acho que foi isso que quis dizer.
silêncio
Mas não era isto que eu queria dizer. O que eu queria dizer é que ainda podem ver a Lídia a dizer as minhas palavras amanhã (hoje), pelas 22h40 no Espaço Evoé (rua das Canastras, nº 36, Lisboa).

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