Passou quase um ano, e foi estranho
sentar-me a ver onde é que estavas quando te vi pela última vez,
uma curta peça que escrevi para a Lídia e à qual falta um ponto de
interrogação no título, como muito bem observaram alguns
entendidos.
Não
gosto de ver em cena o que escrevo. Fico sempre a olhar para o
público, para a reacção das pessoas, oscilo entre Eros e Tanatos
consoante os sorrisos ou os bocejos das pessoas. Mas foi bom ver a
sala cheia e quase todas as pessoas de pé no final, é uma sensação
agradável, mesmo que as palmas não sejam para mim, mesmo que não
saibam quem eu sou.
Já
não ouvia o texto há quase um ano, e ontem, numa espécie de ensaio
geral possível, senti-me na pele de um espectador desatento que não
sabe onde está. Não reconheci as palavras, não sabia o que ia
acontecer, qual a sequência das ideias e como elas se ordenavam umas
à frente das outras.
É
quase incestuoso gostar de uma coisa que escrevi e não me lembrar de
a ter escrito.
Quase
nem me lembro que estivemos um mês em cena no ano passado, no Teatro
Rápido.
Foi o único texto que escrevi em que não fui acusado de misoginia.
Foi o único texto que escrevi em que não fui acusado de misoginia.
A
acção, que eu julguei simples, trata de uma mulher que prefere
sonhar com a materialização do amor da vida dela numa fotografia do
que a viver a realidade. As histórias que vai inventando servem para
não estar sozinha nessa repetição, mas com isso perde-se na sua
própria alteridade porque o mundo do “faz-de-conta” é, afinal,
tão real quanto a vida (algumas crianças que assistiram ao
espectáculo não tiveram qualquer dificuldade em perceber o texto,
ao contrário de muitos adultos, que se baralhavam e perdiam nas
muitas efabulações da personagem).
Acho que onde é que estavas quando te vi pela última vez é sobre as pessoas e sobre o teatro.
Acho que onde é que estavas quando te vi pela última vez é sobre as pessoas e sobre o teatro.
silêncio
E
estamos sozinhos a inventar histórias, estamos sempre sozinhos a
inventar histórias, acho que foi isso que quis dizer.
silêncio
Mas
não era isto que eu queria dizer. O que eu queria dizer é que ainda
podem ver a Lídia a dizer as minhas palavras amanhã (hoje), pelas
22h40 no Espaço Evoé (rua
das Canastras, nº 36, Lisboa).
Sem comentários:
Enviar um comentário