quinta-feira, 14 de maio de 2015

O CHAT

Das 610 pessoas que são minhas amigas, apenas seis, aparentemente, estão acordadas a esta hora. Não tenho intenção de falar com nenhuma delas e espero que nenhuma delas venha falar comigo, a não ser que digam,
– pftiu piut pftiu.
Entre as 5 e as 6 da manhã tudo pode acontecer. O limbo entre a noite e o dia ganha um significado maior a esta hora em que é muito tarde para quase todos e muito cedo para todos os outros. Para mim é uma hora normal, a minha hora preferida. Estou sentado sozinho à secretária, faço o resumo do dia, vejo o que tenho para fazer e o que não fiz, leio algumas coisas, bebo a espuma dos dias e ouço música depressiva. Lá fora, um pássaro canta na varanda todos os dias a mesma melodia,
– pftiu piut pftiu,
obviamente que não é isto que ele diz, mas faz de conta,
– pftiu piut pftiu,
diz ele todos os dias por esta hora, e que raio estará ele a dizer?, provavelmente o mesmo que todos os meus 610 amigos têm vontade de dizer uns aos outros e não dizem, ou então aquilo que os meus 610 amigos gostavam de dizer a eles próprios antes de irem dormir, enquanto dormem ou quando acordam. (apagar este parágrafo, não presta).
Uma vez, uma mulher que sabe mais sobre o significado da vida do que eu alguma vez saberei, disse-me,
– Não te transformes num cínico.
Entre as cinco e as seis da manhã é difícil não acreditar que foi isso que me aconteceu, e é difícil compreender por que razão nenhum dos meus 610 amigo me diz,
– pftiu piut pftiu.

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