Do que menos gosto num prédio
são os vizinhos. Não é o barulho, porque não os ouço, não tenho obras ruidosas
que me martelem de manhã nem recém-nascidos que me gritem de noite. Mas não
gosto de vizinhos.
O regresso a casa a meio
da tarde é sempre um problema. Dou por mim a olhar para as pessoas, tentando
adivinhar para onde vão. Apresso o passo ou finjo contemplar a natureza se com
isso conseguir evitar o contacto ocasional que a educação diz que tem de ser
preenchido com palavras. Odeio os «boa tarde» tanto como os «com licença» ou os
«faz favor». Às vezes, no elevador, sou obrigado a falar sobre o tempo. Que me
interessa a mim que esteja a chover se já é Primavera? Que me interessa se está
sol ou se está calor? Muitas vezes calculo mal a rota dos vizinhos, ou porque
se demoraram a abrir a caixa do correio ou porque encontraram outro vizinho na porta
da entrada e ficaram parados a falar sobre o tempo. Nessas alturas, perante a
hesitação do cumprimento, finjo que apenas ali estou porque preciso de ir com
urgência à clínica veterinária na porta ao lado. Mas não é fácil. Não levo um
gatinho debaixo do braço nem trago um cão à trela, de maneira que quando as
senhoras do balcão me perguntam,
– sim?
E eu respondo,
– estou só a ver,
sinto que elas me olham
com uma desconfiança profunda, porque a única coisa que há para ver são posters
de cãezinhos e gatinhos e cartazes com conselhos úteis sobre os sintomas da
raiva ou como evitar as pulgas. Às vezes finjo que não sou dali, que estou a
caminho de casa e que ainda é longe. Dou a volta ao quarteirão e tento outra
vez. Devem pensar que eu sou um sociopata, mas good fences make good neighbors, como dizia o Robert Frost. Agora
que me lembro, não era ele que dizia isso, era o vizinho, e por isso neste caso
não sou o Robert Frost mas aquele que gosta de construir barreiras e de as manter.
Gosto de muros à minha volta, muito altos de preferência. Alguns podem confundir
isto com timidez, mas não. Simplesmente não gosto de vizinhos.
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