– Hoje é um bom dia para morrer,
gritam elas a plenos pulmões. É de madrugada, toda a
vizinhança as ouviu, eu estou a uns cem metros de distância e começo a rir-me. Talvez
alguém tenha acordado e de certeza que em casa lhes vão perguntar que grito foi
aquele tão inesperado com o sol quase a nascer. Queria ter pulmões para lhes
responder. Mas fico calado, limito-me a rir. Não me estou a rir delas, estou a
rir-me porque estou feliz. Percebi isso há bocado, sentado à luz das velas,
esta vai ser uma daquelas alturas em que vou lembrar-me que sou feliz. E na
verdade não é preciso muito, nem as velas são necessárias, basta dizermos a
verdade, basta dizermos que
– hoje é um bom dia para morrer,
porque se tivermos feito o suficiente, se tivermos feito o
suficiente para sermos o que somos e sabermos o que somos, então valeu a pena e
não seremos apenas sonhadores, seremos alguém que caminhou pelo mundo com a
consciência que há alguém ao nosso lado.E se um dia chegarem a casa e tiverem nas mãos o cheiro a eucalipto, mesmo que não gostem do cheiro a eucalipto, lembrem-se que, no final, apenas isso interessa, apenas isso valerá a pena.