quinta-feira, 24 de abril de 2014

HEY, WILL, HOW ARE YOU DOING?

Estou tão vazio que quando acabar a CASSIOPEIA me vou apaixonar. Vou apaixonar-me a sério, com filmes no sofá e passeios de pés descalços à beira-mar. Se for a tempo ainda vou celebrar o 25 do 4. Vou gritar, «viva a liberdade», e insultar os polícias, se houver polícias, mas deve haver polícias, vou gritar «filho-da-puta» de boca bem aberta. Não. Isso seria demais. Lamento, mas isso não vou fazer. Isso seria demais, nem eu acreditaria nisso. Vou apaixonar-me, isso chega.
Estou farto de ser assim. Vou passar a beber água e sorrir quando me sorriem. Vou apanhar sol. É isso. Hei-de sair de casa um dia e dizer que vou apanhar sol. Vou dizer para a cama depois de me levantar: «vou apanhar sol», e a cama há-de sorrir-me e dizer-me sem voz, «senta-te numa esplanada, pede uma água e apanha sol: tudo vai fazer sentido». Toda a gente gosta disso, por que não hei eu de gostar? Que frase complicada. Gostava de escrever com erros ortográficos e gramaticais. Gosto de pessoas que escrevem no facebook a vida que têm com erros ortográficos e gramaticais. Gostava de ser estúpido. Se eu fosse estúpido a vida de certeza que faria sentido. E se estivesse numa esplanada, ao sol, a escrever a minha vida com erros ortográficos e gramaticais, então seria o pico da felicidade humana. As pessoas haviam de dizer que estou com bom aspecto, que rejuvenesci, e eu ia gostar de ouvir isso e iria sorrir, iria sempre sempre sorrir, como um pateta.
O ICTUS está a acabar. Faltam quatro dias para as personagens morrerem, quatro dias para deixarem de existir. Devia estar deprimido, mas não vale a pena. Depois há-de começar tudo outra vez, com outra peça, outras palavras. O Shakespeare, que sabia tudo antes de nós sabermos, percebeu cedo a verdade das coisas: tudo acaba e tudo se repete, e o tudo é um nada maior que o infinito.
Vou apaixonar-me. Vou acabar a CASSIOPEIA e o ICTUS vai acabar. Depois vou olhar para ti e vou apaixonar-me. Vou apaixonar-me mesmo. E seremos feitos da mesma matéria que os sonhos.

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